A microbiota intestinal: um fator central nos distúrbios digestivos

Distúrbios gastrointestinais funcionais ou DGIF é um termo genérico que abrange uma variedade de problemas de saúde semelhantes entre si, entre eles a síndrome do intestino irritável, distúrbios digestivos e colite nervosa. Estes problemas de saúde afetam um em cada três portugueses1! A manifestação destas condições intestinais comuns é o aparecimento ocasional ou recorrente de sintomas múltiplos de intensidade variável.

Dor abdominal, distúrbios no trânsito intestinal, cólicas, inchaço ou flatulência, náuseas ou vómitos… estas manifestações dos distúrbios gastrointestinais funcionais são geralmente benignas, mas podem prejudicar com muita frequência a qualidade de vida física e mental das pessoas afetadas. Uma refeição muito farta, níveis elevados de stress ou uma reação a um alimento específico são apenas alguns dos muitos causadores deste tipo de desconforto digestivo. No entanto, ao adotar práticas corretas de saúde e de estilo de vida, esses distúrbios podem ser prevenidos e/ou o seu impacto no organismo pode ser reduzido. Um foco particular da investigação sobre o bem-estar digestivo incide sobre os produtos que consumimos que afetam a microbiota intestinal, tais como os probióticos e os alimentos ricos em fibras.

Os distúrbios gastrointestinais assumem muitas formas

Inchaço, acidez gástrica, dificuldades de digestão após uma refeição… se for como cerca de 33% da população portuguesa, já terá sem dúvida experimentado estes sintomas incómodos! Os distúrbios funcionais que afetam a digestão são muito comuns; de facto, 49% pessoas com mais de 45 anos em Portugal afirmam já ter visitado alguma vez um gastrenterologista2!

Estes problemas digestivos ocorrem mais frequentemente após uma refeição demasiado farta, demasiado gordurosa ou demasiado picante. No entanto, também podem ser causados pela ingestão apressada de um lanche ou se estiver stressado ou ansioso. As diferentes formas com que estas condições se manifestam refletem o facto de as causas dos sintomas serem complexas. De facto, a identificação dessas causas é um aspeto fulcral da investigação atual. A qualidade de vida, a toma de determinados medicamentos, uma maior suscetibilidade ou o stress são exemplos de causas que estão a ser estudadas.

O que se sabe é que estes distúrbios são uma entidade funcional diversificada, que combina uma série de sintomas gastrointestinais crónicos ou recorrentes.

Qual é o papel da microbiota intestinal na digestão?

O intestino é composto por 3 “elementos” indissociavelmente ligados que funcionam em sinergia: a microbiota intestinal (também chamada flora intestinal), a membrana mucosa intestinal e o sistema imunitário intestinal.

Os DGIF caracterizam-se por uma combinação variável de sinais3,4,5 que são fáceis de identificar:

  • Dor abdominal
  • Sensação de enfartamento
  • Náusea
  • Vómitos
  • Cãibras
  • Trânsito lento ou acelerado (obstipação ou diarreia)
  • Inchaço ou flatulência
  • Uma função metabólica e nutricional, uma vez que a microbiota intestinal digere (fermenta) os nutrientes não digeríveis, que só as bactérias são capazes de degradar, e também sintetiza compostos derivados desses nutrientes que desempenham um papel metabólico benéfico (nomeadamente ácidos gordos de cadeia curta e vitaminas dos grupos B e K).
  • Proteção contra microrganismos patogénicos, descrita como um “efeito barreira” ou uma resistência à colonização.
  • Estimulação do sistema imunitário intestinal e periférico

A microbiota intestinal interage com a mucosa intestinal (que atua como “filtro”) e com o sistema imunitário intestinal (que está envolvido na defesa do corpo contra invasores nocivos e também na tolerância alimentar). Um desequilíbrio neste ecossistema pode resultar em distúrbios da função digestiva.

Síndrome do intestino irritável: um distúrbio comum?

A síndrome do intestino irritável (SII) é atualmente um dos distúrbios gastrointestinais funcionais mais comuns. 1 milhão de portugueses é afetado por esta patologia, sendo mais frequente no sexo feminino, em pessoas com menos de 50 anos e naqueles com personalidades ansiosas e/ou deprimidas.6 De notar que a SII pode ser desencadeada por um episódio infeccioso agudo (como a gastroenterite), sendo este tipo referido como “SII pós-infecciosa” e é mais comum nas mulheres após um episódio infeccioso associado a stress ou ansiedade que dure mais de 5 dias.

As manifestações da SII são dor abdominal ou desconforto digestivo, combinado com inchaço e distúrbios do trânsito intestinal.

Os episódios desenvolvem-se durante um longo período, com episódios recorrentes que ocorrem em pelo menos 3 dias de cada mês, e durante um período de 3 meses. A frequência ou consistência das fezes varia.

A síndrome do intestino irritável desenvolve-se frequentemente a par de outras condições:

  • Patologias intestinais (doença do refluxo gastroesofágico, incontinência intestinal)
  • Patologias extraintestinais (dores de cabeça, enxaquecas, fibromialgia, distúrbio temporomandibular, dor dorso-lombar, dor pélvica crónica, distúrbios urogenitais, fadiga crónica, asma)
  • Intolerâncias e manifestações alérgicas (intolerância ao glúten ou medicação, alergias alimentares)

Apesar de os mecanismos responsáveis pela síndrome do intestino irritável ainda não serem totalmente compreendidos, alguns resultados de estudos sugerem a presença de perturbações na microbiota intestinal e, mais particularmente, de uma instabilidade da microbiota fecal dominante, que varia ao longo do tempo.

Alterar a composição da microbiota intestinal através da ingestão de uma dose específica de probióticos poderia, assim, ajudar a melhorar o conforto digestivo em pessoas com SII.

As pessoas com SII referem também que certas dietas aliviam os seus sintomas: refeições pequenas, mas mais frequentes (69% dos casos) e evitar algum tipo de alimentos, como as gorduras (64%), produtos lácteos (54%), hidratos de carbono (43%), café (41%), álcool (27%) e carne (21%)7.

O Movimento Intestino Feliz oferece apoio e aconselhamento às pessoas com SII. Para mais informações: https://sindromeintestinoirritavel.pt/.

Quais são as causas dos distúrbios gastrointestinais funcionais?

Vários fatores, que frequentemente atuam em conjunto, podem induzir distúrbios digestivos:

  • Uma alimentação excessiva ou uma refeição demasiado rápida é o gatilho mais comum para o aparecimento de distúrbios, uma vez que sobrecarrega o sistema digestivo. Os órgãos envolvidos na digestão dos alimentos são desregulados e não conseguem gerir eficazmente a ingestão de alimentos.
  • O stress e a ansiedade são fatores psicológicos que podem modificar o trânsito intestinal.
  • Uma dieta desequilibrada – a comida ocidental, por exemplo, tende a ser pobre em fibra; quando combinada com estilos de vida sedentários, o resultado pode ser um trânsito intestinal lento
  • Mudanças no ritmo de vida ou um novo ambiente, por exemplo: viagens para regiões em que os padrões de higiene são mais baixos8
  • Idade
  • Tabagismo
  • Uma microbiota intestinal desequilibrada (conhecida como disbiose)

Esta disbiose da microbiota intestinal prejudica as suas funções essenciais: desenvolvimento da maturidade do trato gastrointestinal, nutrição (através da decomposição de compostos alimentares não digeríveis), educação ou estimulação do sistema imunitário e proteção contra a colonização de microrganismos patogénicos. Sem o “efeito barreira” da microbiota intestinal, bactérias indesejáveis ou nocivas podem entrar no organismo e as bactérias benéficas não serem toleradas.

De acordo com os critérios diagnósticos de Roma III, os seguintes distúrbios são classificados como DGIF: síndrome do intestino irritável (SII), inchaço funcional, prisão de ventre funcional, diarreia funcional e distúrbio intestinal funcional não específico.

O que fazer para melhorar a digestão?

Há muitas coisas que pode fazer para se proteger de distúrbios gastrointestinais funcionais. Um estilo de vida saudável, combinado com uma dieta apropriada, é um bom primeiro passo para o conforto digestivo. Os probióticos e as fibras alimentares são o foco de grande parte da investigação científica atual. São utilizados para prevenir as DGIFs, para tratar certos distúrbios e também para melhorar o bem-estar geral diariamente!

  1. Adotar uma dieta rica em micronutrientes, fibras e probióticos9,10
  • Probióticos: estes microrganismos vivos – quando a combinação certa de estirpes é ingerida em quantidades adequadas – têm um impacto na microbiota intestinal e efeitos positivos na digestão.

Os probióticos apoiam visivelmente: uma melhor digestão da lactose; uma assimilação mais eficaz dos nutrientes e uma regulação mais forte do trânsito gastrointestinal.

O primeiro guia prático de referência sobre os benefícios clínicos de probióticos específicos na gestão dos sintomas gastrointestinais, produzido pela ESPCG (Sociedade Europeia de Gastroenterologia de Cuidados Primários)9, e baseado em 3000 estudos científicos, tornou agora mais fácil selecionar as estirpes probióticas certas para uma dada patologia e saber quais os efeitos a esperar. Este guia é particularmente útil na prevenção da diarreia associada aos antibióticos e na redução dos sintomas da SII.

  • Fibra9: cereais, legumes e fruta são ricos em fibras e aceleram naturalmente o trânsito intestinal. Estes alimentos têm um elevado teor de água e melhoram as contrações do cólon. São também facilmente fermentados pela microbiota intestinal que gera gases. À medida que as dietas modernas se estão a tornar cada vez mais processadas e refinadas, o nosso consumo de alimentos ricos em fibras encontra-se muitas vezes abaixo dos níveis recomendados.
  • Folhas de alcachofra: de acordo com estudos clínicos recentes, ajudam a reduzir a dispepsia e os sintomas da síndrome do intestino irritável (dor abdominal, inchaço, obstipação)11
  1. Otimize o seu estilo de vida12,13
  • Horas de refeição fixas: o objetivo é alcançar uma ingestão estável de alimentos que seja propícia ao bem-estar. Faça as refeições em horários fixos, mastigue bem os alimentos e jante pelo menos 3 horas antes de ir para a cama.
  • A escolha de bebidas: a água é sempre a melhor opção e deve ser consumida em grandes quantidades (pelo menos 1,5 litros por dia). Em contraste, os refrigerantes ou as bebidas alcoólicas devem ser consumidos ocasionalmente, e sempre em pequenas quantidades.
  • Desporto: o exercício regular é essencial para o bem-estar físico. Em termos de digestão, a ginástica abdominal hipopressiva é particularmente recomendada pois promove o trânsito intestinal e reduz os níveis de stress.

Procure um profissional de saúde perto de si, para o aconselhar.

Referências

  1. https://www.tsf.pt/portugal/sociedade/atraso-brutal-e-alarmante-portugueses-com-problemas-digestivos-mas-nao-procuram-especialista-13787007.html – conclusões de um inquérito nacional, promovido pela Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia
  2. https://saudedigestiva.pt/inquerito-saude-digestiva/
  3. Frexinos J, Denis P, Allemand H, Allouche S, Los F, Bonnelye G. Etude descriptive des symptômes fonctionnels digestifs dans la population générale française. Gastroenterol Clin Biol 1998; 22:785-91.
  4. Tack J, Caenepeel P, Piessevaux H, Cuomo R, Janssens J. Assessment of meal induced gastric accommodation by a satiety drinking test in health and in severe functional dyspepsia. Gut 2003; 52:1271-7.
  5. Drossman, D. A., Corazziari, E., Delvaux, M., Spiller, G., Talley, N. J., Thompson, W. G. & Whitehead, W. E. (2006) Rome III: The functional gastro-intestinal disorders. 3rd ed
  6. https://saudeonline.pt/entrevista-sindrome-do-intestino-irritavel-afeta-1-milhao-de-portugueses/
  7. Halper et al. 200
  8. Khatibi, S. & Marchou, B. (2007) [Assessment of travel-associated risks and advice to travelers]. Rev. Prat. 57: 831-842.
  9. Systematic review: probiotics in the management of lower gastrointestinal symptoms in clinical practice – an evidence-based international guide. Aliment Pharmacol Ther 2013; 38(8):864-86
  10. Kleessen, B., Sykura, B., Zunft, H. J. & Blaut, M. (1997) Effects of inulin and lactose on fecal microflora, microbial activity, and bowel habit in elderly constipated persons. Am J Clin Nutr 65: 1397-1402
  11. Walker A.F et al., Artichoke leaf extract reduces symptoms of irritable bowel syndrome in a post-marketing surveillance study, Phytotherapy Research, 2001, 15: 58-61.
  12. Frexinos J. Alimentation et troubles fonctionnels digestifs. Cahier de nutrition et de Diététique 2004; 39:307 10.
  13. Frexinos J, Buscail L. Hépato-gastro-entérologie Proctologie. Masson, 2003.

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